terça-feira, 3 de março de 2009

Sinceramente...

Venho aqui dar o primeiro passo de um programa de recuperação que adentrei recentemente...
Esse primeiro passo consiste em admitir publicamente o problema, num programa televisivo apelativo, num culto religioso com milhares de fiéis, num stripclub ou num site da internet.
Como a Márcia Goldsmith está de férias, o R.R. Soares não atende minhas ligações e a boite Pantera só abre a meia-noite nas terças-feiras, aqui estou eu.

O fato é que eu sou viciado em... mentiras e ironias.

Pode parecer engraçado num primeiro momento - e normalmente é - mas isso tem me causado uma série de problemas... desconfortáveis.

Os primeiros sintomas do vício incontrolável foi em relação à ironia. Aos poucos os comentários sagazes foram dando lugar às frases inconvenientes... Como esquecer o incotido grito de "belo zíper!" para a professora que esqueceu a próxima etapa após se dar a descarga? Claro, belas risadas da turma, mas minhas notas em Física não foram lá as melhores.

Com o tempo isso foi piorando, e a ironia já era uma constante na minha fala. Uma pergunta do tipo "Como conseguiu falar com ela? Você ligou?" normalmente era seguido por um "Não,
usei meus poderes telepáticos mesmo." ou por algo pior. A essa altura, eu já era um conhecido babaca.

Após alguns meses, começou a fase das mentiras... Inicialmente, eram mentiras inocentes que visavam apenas encobrir as coisas que eu tinha feito:
"Não, mãe, não sei quem comeu o bolo"
"Professora, você acha que eu iria colar na prova?"
"Senhor Joaquim, nem acho a sua filha atraente! Não pretendo fazer qualquer coisa com ela, muito menos isso!"

Mas eu fui me acostumando tanto em distorcer a realidade, que comecei a ficar com dificuldades em falar a verdade. O dia em que meu pai me perguntou que horas eram, eu olhei no relógio, vi 16:43 e disse 15:27 deliberadamente, eu percebi que estava com um problema.

Comecei a consultar um psicanalista e ele disse que eu era um Mentiroso Compulsivo. Ele me indicou um tratamento em grupo (uma espécie de AAA, mas sem as festas open bar). Hoje estou bem melhor. E com todas essas consultas já percebo a causa dessa minha sindrome.

Tudo indica que foi na época do meu alistamento. É uma época marcante para qualquer rapaz, e deixa cicatrizes por toda a vida. Quando fui escolhido como recruta fiquei arrasado, tive que largar amigos, família, estudos... O treinamento era diário, intenso e exaustivo. Todos os superiores pareciam que eram treinados para te destruir emocionalmente e devastar psicologicamente. Após semanas sem dormir adequadamente e fazendo treinos físicos e de tiro intensivamente, fui selecionado como um dos melhores recrutas e passei para o pelotão de elite da partição. O treinamento era muito mais duro, e boa parte dele era voltado para missões de infiltração, logo havia a necessidade de enganar o inimigo em interrogatórios caso fosse capturado. Eles ensinaram técnicas para agir sobre pressão, aguentar tortura e, principalmente, mentir.

Após 10 anos de batalhas sangrentas e sem sentido, fui promovido 17 vezes e me aposentei como veterano de guerra nível WorldClass, com direito a várias condecorações e o meu próprio boneco de ação (pilhas não incluidas). Até hoje luto contra sequelas deixadas pelo horror da guerra e toda aquela carnificina.

Mas hoje me sinto um novo homem. A verdade liberta.

6 comentários:

  1. ótimo texto, Jesus Negão gosta da vardade!

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  2. Muita sinceridade e nenhuma ironia, parabéns.

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  3. Jesus Negão e a Juh Negona, han, han? Que lixo =( haha Curti, lindo. Sem mentiras.

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  4. Bom, que aconteceu quando vc desligou o Xbox?

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  5. Algumas pessoas não entenderam o espírito da coisa ¬¬

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